Inclusão digital dos pequenos e médios empreendedores do Brasil

tipo: Documentos
publicado em: 26 de maio de 2010
por: Nivaldo Cleto
idiomas:
Inclusão digital dos pequenos e médios empreendedores do Brasil

Nivaldo Cleto* - 26 de maio de 2010
Fonte: Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação 2009

O pequeno empreendedor do Brasil tem o dever de estar a cada dia mais familiarizado com as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Em um mundo empresarial de competição cada vez mais globalizado, aquele que não criar mecanismos adequados para a gestão dos negócios tende a desaparecer de uma vez do mercado.

A pesquisa TIC Empresas 2010 traz importantes informações, visando comprovar que os pequenos negócios necessitam do apoio de políticas públicas e privadas para o desenvolvimento e continuidade das suas atividades. Para ilustrar esse argumento, apresentamos um resumo dos principais pontos das pesquisas relacionadas ao segmento de pequenas empresas.

  1. Constatou-se que da base de 3.700 empresas pesquisadas, 97% utilizam computadores, e apenas 93% utilizam a Internet. Assim, é necessário criar condições e mecanismos para inclusão dos 7% restantes. Quem sabe uma política entre pequenos provedores e o governo resolverá essa questão de uma forma mais eficaz e econômica, a fim de atender às pequenas empresas – segmento com a penetração mais baixa no uso da Internet, (91%) sem trazer prejuízo aos investidores.
  2. As empresas que oferecem aos funcionários acesso remoto ao seu sistema de informações saltaram de 15 % em 2006, para 25% em 2009; isso significa que houve um crescimento da modalidade de trabalho remoto no país, possivelmente como uma opção de redução de custos operacionais (água, luz, aluguel etc.)
  3. Cerca de 61% das empresas de pequeno porte utilizam celulares corporativos, e 22% destas oferecem acesso à Internet através do telefone celular. Uma política pública para reduzir as tarifas de conversação e de acesso à Internet poderia incentivar essa prática nas pequenas empresas, visto que quase a totalidade das empresas de grande porte oferece celulares coorporativos (90%) e a metade oferece acesso à Internet (53%).
  4. Apenas 45% das pequenas empresas possuem website. Mais do que nunca, é preciso incentivar esses empreendedores sobre a importância e as vantagens de fornecerem seus produtos e serviços na grande rede.

O governo, juntamente com entidades privadas, tem proporcionado diversas iniciativas para oferecer condições necessárias ao acesso às TICs e aos conteúdos voltados para o crescimento dessa empresas no mercado global da web. A política nacional de Banda Larga para todos permitirá que os empreendedores das mais distantes localidades do interior do Brasil acessem as diversas fontes de informações disponibilizadas para o desenvolvimento dos seus negócios. Para isso, serão necessários a habilidade e o treinamento dos usuários, caso contrário haverá uma enorme “brecha” digital.

As próprias empresas de pequeno e grande porte, com o advento da nota fiscal eletrônica, forçam os pequenos revendedores a utilizarem a rede para obterem informações sobre produtos e serviços a serem adquiridos e revendidos.

Conforme dado apontado sobre a utilização de website, entende-se que o potencial de desenvolvimento oferecido pela Internet ainda não é devidamente explorado pelas pequenas organizações. A proporção de pequenas empresas que possuem website apresentou uma queda de 2 pontos percentuais entre 2008 e 2009.

O Comitê Gestor da Internet do Brasil – CGI.br – vislumbrou a necessidade de se criar uma oportunidade a fim de que os pequenos empreendedores brasileiros conheçam os benefícios de registrarem um domínio próprio, com informações básicas da sua atividade ou do seu negócio a um preço diferenciado. Com tal iniciativa e contando com o apoio dos pequenos provedores de Internet e das entidades que representam os pequenos negócios, os empreendedores criariam uma identidade na rede, facilitando a localização dos seus produtos e serviços através dos diversos mecanismos de busca hoje existentes, por exemplo o Google.

Pense num pequeno salão de cabeleireiro e pedicure, obtendo a um custo bem reduzido, isto é, um pequeno conteúdo do seu negócio numa pagina simples da web. Por meio de uma página, aumenta-se a chance de os usuários da Internet, através de uma simples pesquisa no mecanismo de busca, encontrarem o serviço desejado numa localidade mais próxima de seu trabalho ou de sua residência.

O maior impacto desse incentivo seria criar uma cultura digital para que o pequeno empreendedor perceba os principais benefícios do mundo eletrônico das comunicações aplicado a seus negócios, como:

  • Publicação de suas tabelas de preços e de serviços;
  • Possibilidade de participar da modalidade de e-commerce;
  • Interação com clientes e fornecedores por email e outras redes sociais de relacionamento, por exemplo: o Orkut, Facebook, Twitter e outros.
  • Realização de treinamento a distância para capacitar seus colaboradores;
  • Acesso a informações sobre obtenção de recursos subsidiados para aquisição de equipamentos e acessórios, com a finalidade de ampliar os seus negócios, gerando emprego e riqueza.

Podemos, juntamente com o apoio institucional das entidades representantes desses setores, criar e divulgar vídeos educativos, informando aos interessados como proceder para registrar seu domínio, bem como os demais benefícios que a rede oferece.

Imaginem quantas oportunidades de negócios surgirão para as diversas etapas da cadeia produtiva e de serviços, quando a grande maioria dos pequenos empreendimentos forem mapeados e encontrados por meio das facilidades da comunicação na Internet.

Telecentros para os Pequenos Empreendedores

Uma das iniciativas fundamentais do Governo foi a criação dos Telecentros de Informações e Negócios – TINs, ambientes voltados para a oferta de cursos e treinamentos presenciais e à distância, informações, serviços e oportunidades de negócios, visando o fortalecimento das condições de competitividade da microempresa e empresa de pequeno porte, e o estímulo à criação de novos empreendimentos. Serve como um instrumento para aproximar os empresários, as instituições públicas e privadas, as organizações não governamentais (ONGs) e a sociedade em geral. Compostos por vários computadores interligados em rede local e conectados à Internet, possuem orientação de monitores capacitados para atenderem às demandas de seus usuários.

A autorização para sua implementação é concedida através de formulários eletrônicos preenchidos no sítio www.telecentros.desenvolvimento.gov.br., e sua concessão é disponibilizada para as seguintes entidades (I) ONGs, reconhecidas como organizações de utilidade pública sem fins lucrativos; (II) organizações de direito privado de interesse público (OSCIPs), reconhecidas pelo Ministério da Justiça sem fins fins lucrativos; e, (III) entidades de Direito Público dos Governos Federal, Estadual ou Municipal, que atuem em áreas de desenvolvimento social.

Dentre os principais benefícios possibilitados pelos Telecentros de Informações e Negócios – TINs, temos:

  • Capacitação dos empresários e de seus empregados no uso da informática e da Internet nas suas atividades;
  • Oferta de cursos para a melhoria da qualidade de seus produtos e serviços;
  • Auxílio à comunidade para sua inserção na Sociedade da Informação;
  • Prestação de serviços de informática aos empresários;
  • Geração de recursos para a autossuficiência e para novos investimentos de informação e de negócios;
  • Surgimento de uma nova fonte de recursos para a entidade;
  • Maior interação com a comunidade local;
  • Possibilidade de capacitação dos empresários e de seus trabalhadores;
  • Maior divulgação de seus produtos em mídia eletrônica;
  • Promoção de inclusão digital da Empresa;
  • Competitividade das empresas;
  • Melhoria no nível de qualidade de produtos e serviços.

Existe uma seção do Portal Telecentros de Informação e Negócios que possui a finalidade de ofertar conteúdos informativos dos mais variados segmentos, desde empreendedorismo, gestão de negócios, atendimento, pesquisa de mercado, inovação, controles financeiros, Lei Geral da Micro Empresa, até a cartilha do trabalhador. Os assuntos estão focados no apoio à capacitação e ao desenvolvimento desses negócios, cujos conteúdos disponibilizados foram avaliados por uma equipe de especialistas do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico – DCT –, da Universidade de Brasília.

Segundo estatísticas do Observatório Nacional de Inclusão Digital (ONID), organização que atua na coleta, sistematização e disponibilização de informações para o acompanhamento e avaliação das ações de inclusão digital no Brasil, existem no país apenas 86 Telecentros de Informação e Negócios, o que corresponde a 1,68 % do total em funcionamento para diversos segmentos da sociedade. Isto significa que de um total de 5.364 Telecentros instalados em 2.257 municípios, apenas 86 estão voltados para os pequenos empreendedores.

Visando ampliar ainda mais a instalação dos Telecentros no Brasil, foi publicado o Decreto 6.991, de 27/10/2009, instituindo o Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digital do Governo Federal; na sequência, foi publicado no D.O.U., em 24/02/2010, Seção 3, pgs. 130 a 135, o edital do Telecentros.br, onde foram divulgados os novos procedimentos para adesão de entidades proponentes ao Programa e de solicitação dos recursos oferecidos para os telecentros. Com esse edital, o governo espera a criação de mais três mil novos Telecentros, e mais condições de reequipar os demais 5,6 mil Telecentros já existentes.

Com o advento desse admirável mundo novo telemático, a profecia da “aldeia global” tornou-se realidade. O casamento do telefone com a televisão, o microcomputador e a Internet tem gerado uma prole de infinitas possibilidades. O mundo virtual, em permanente expansão, transcende os limites da empresa, embarca em todas as modalidades de transporte, alcança os lares e acompanha o homem onde quer que ele esteja.

Como todas essas mudanças foram extremamente bruscas, vertiginosas, muitas pessoas ainda não se adaptaram à nova realidade. Outros criaram certa resistência e até um medo justificável, pois nem sempre é fácil enfrentar o novo. E, assim, permanecem à margem desse processo, por fora do seu próprio mundo.

Continuar incentivando a utilização das TICs, em particular a Internet, para os cidadãos empreendedores, sem dúvida fará com que os seus negócios cresçam, gerando mais trabalho e riqueza para a sociedade. Operar um negócio com a ajuda da grande rede é tão simples quanto prazeroso; tão eficaz quanto proveitoso.

Como citar este artigo:
CLETO, Nivaldo. Inclusão digital dos pequenos e médios empreendedores do Brasil. In: CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil). Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação 2009 . São Paulo, 2010, pp. 73-79.